sexta-feira, 4 de janeiro de 2013


Isolamento e Envolvimento  - Charles Swindoll

Elevadores são estranhos, não são? Em especial os lotados. Você fica todo espremido com pessoas que nunca viu na vida, e então se esforça por todos os modos para não se encostar neles. E ninguém abre a boca. Você ouve ocasionalmente um “boa tarde” ou um “oh, me desculpe” enquanto algum atrapalhado pisa no dedo do pé de outra pessoa. Você não olha para ninguém; na verdade, você não olha pra lado nenhum, só para cima, para aqueles números bobos que sobem e descem. Estranho. Pessoas que são basicamente da mesma cultura e falam a mesma língua, de repente ficam em silêncio como freiras quando em um ambiente de claustro. É quase como se existisse uma placa oficial com os dizeres: NÃO É PERMITIDO FALAR, SORRIR, TOCAR, FAZER CONTATO VISUAL SEM O CONSENTIMENTO DO GERENTE. NÃO ABRIMOS EXCEÇÕES.

Anos atrás eu estava falando na Universidade de Oklahoma. Após a reunião, um grupo de três ou quatro pessoas me convidou para tomar um refrigerante com eles. Já que estávamos a vários andares acima do centro de estudo, decidimos pegar o elevador para descer. Assim que a porta abriu, a coisa estava cheia de gente e eles enviaram o olhar “vocês não estão pensando em entrar aqui, estão?”. Mas nós entramos, naturalmente. Não tinha nem espaço para virar. Eu senti a porta se fechando nas minhas costas enquanto todos me encaravam. Eu sorri e disse em voz alta: “vocês devem estar perguntando o porquê desta reunião!”. Todos começaram a rir. Foi uma coisa maravilhosa de se ver… Pessoas de fato se falando, se relacionando uns com os outros… e no elevador.

Andei pensando ultimamente, que um elevador é um microcosmo do nosso mundo hoje: uma grande instituição impessoal onde o anonimato, o isolamento, e a independência são os uniformes do dia. A qualidade básica social é ser diluído, distorcido e humilhado. Nós estamos fora de forma na área de relacionamentos, como se vivêssemos na “mentalidade do elevador”. Uma recente publicação do sociólogo Ralph Larkin sobre a crise que afeta os jovens suburbanos, ressalta vários aspectos desse mal estar. Muitas crianças da América são retratadas como pessoas que aceitam a vida de uma visão vazia e sem sentido. A síndrome é agora posta em movimento, que inclui um “baixo limiar de tédio, uma expressão de constrição de emoções e aparente ausência de alegria nas coisas que não podem ser imediatamente consumidas”. Faz sentido quando paramos para pensar nas músicas, drogas, bebidas, sexo e status, símbolo de posses. Tire os shows de rock e eventos esportivos e você raramente testemunhará fortes emoções.

Prevalecem em nosso mundo uma indiferença, falta de comunicação, separação, falta de comprometimento e cuidado. Refeições feitas com fones de ouvido em alto som, até mesmo em quartos separados, cada um com seu telefone pessoal, sua televisão, banheiros particulares, e atitudes do tipo “não é da sua conta”. Sem necessidade de compartilhar. Sem necessidade de alcançar. Só olhar os números e não olhar para ninguém.

O Dr. Philip Zimbardo, professor de psicologia em Standford e autor de um dos livros mais usados no campo, fala sobre esse assunto no livro “Psychology Today” (Psicologia hoje), no artigo entitulado “The Age of Indiference” (A Era da Indiferença). Ele escreve:

“Não conheço nenhum assassino mais potente do que o isolamento. Não existe influencia física ou mental mais destrutiva do que o isolamento do você para comigo e do nós para com eles. Isso tem-se mostrado como o agente central da etiologia da depressão, paranóia, esquizofrenia, estupro, suicídio, assassinato em masa…”

E ele adiciona:

“A estratégia do inimigo para os nossos tempos é trivializar a existência humana de várias maneiras: nos isolando uns dos outros enquanto criamos uma ilusão causada pela pressão, demanda de trabalho, ansiedades criadas por incertezas economicas, narcisismo e a feroz competição para ser o n° 1”… Nosso Salvador modelou a resposta perfeitamente. Ele não só pregou a respeito. Ele se importou. Ele escutou. Ele serviu. Ele alcançou. Ele suportou. Ele afirmou e encorajou. Ele se manteve em contato. Ele andou com as pessoas…nunca pegou o elevador.

A única saída para a indiferença é pensar nas pessoas como nossos maiores recursos “acalentadores”. Precisamos trabalhar arduamente para re-estabelecer a alegria em família, refeições significativas, envolvimento com as pessoas, tardes sem televisão, conversas não superficiais, momentos em que realmente nos envolvemos com aqueles que precisam – não só orar por eles.
Pare o elevador. Eu quero descer.

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